quinta-feira, 6 de setembro de 2012

O que os jovens pensam da escola


Estudo revela que os momentos de socialização e afeto com os professores são mais valorizados por jovens infratores do que o conteúdo em sala de aula

Eles iniciaram os estudos, em média, aos sete anos de idade, repetiram de série no mínimo duas vezes e têm pais com baixa escolaridade. Esses adolescentes, entre 15 e 17 anos, não conseguem estabelecer conexão, nem permanecer, no ambiente escolar. Para eles, a escola é o lugar para encontrar amigos, e não para aprender. Para a escola, eles são jovens "problema", com os quais é muito difícil lidar.

Os ex-alunos em questão são jovens infratores entrevistados pela pesquisadora Aline Fávaro, da Universidade Federal e São Carlos (UFSCar), para elaboração da dissertação de mestrado O Jovem autor de ato infracional e a educação escolar: significados, desafios e caminhos para a permanência na escola, defendida em fevereiro de 2011.

A partir da questão sobre como esses jovens significam a escola e suas vivências no ambiente escolar, Aline concluiu que a convivência e as interações são percebidas como os aspectos mais importantes, positivos e prioritários para esses adolescentes. Eles também valorizam o afeto na relação com os professores, reforçando a influência do vínculo para a aprendizagem.

Os significados do ambiente formal de aprendizagem, porém, podem ser indícios de uma crise escolar mais aguda: a sala de aula é vista como um local desinteressante, caracterizada pela pouca interação, pelo silêncio, pelo encarceramento da espontaneidade, do gesto e do questionamento. O conteúdo formal é carente de sentido, há dificuldade de compreensão dos assuntos abordados em sala e falta relação com o cotidiano. Respostas pertinentes apenas ao universo de jovens infratores?

"Outros estudos mostram que a juventude em geral não vê nada de significativo na escola. No caso desses alunos, não podemos falar em causa e efeito provocado pela evasão e a infração. Temos que considerar outros fatores, como a violência da comunidade na qual estão inseridos", diz Aline.

Possibilidades para a escola

Do outro lado, apesar da sociabilidade ser valorizada por esses jovens, a escola pouco reconhece as relações e interações como práticas sociais que envolvem processos educativos legítimos.

"A escola tem dificuldade em lidar com a situação dos alunos. É um problema estrutural. Os professores podem contribuir, mas a escola tem que reestruturar conteúdos, encontrar formas de reconhecê-los como jovens, estar conectada a essa vida, reconhecer outras práticas educativas", reflete Aline. Segundo ela, os professores reconhecem que não têm preparo para lidar com esses jovens, mas demonstram interesse em conhecer mais sobre o tema.

A pesquisadora estudou um universo de 50 jovens, sendo realizadas seis entrevistas, das quais três adolescentes haviam acabado de sair da Fundação Casa e aguardavam vagas na rede pública de ensino para voltar ao ambiente escolar. Segundo Aline, o primeiro momento de empenho é superado pelo desânimo em decorrência da demora em conseguir uma vaga. Apenas um dos entrevistados havia alcançado o Ensino Médio, os demais haviam evadido no Ensino Fundamental.

Psicóloga de formação, Aline, que sempre trabalhou com jovens infratores, diz que as características comuns a esses jovens são a dificuldade em lidar com regras, em estabelecer rotinas e em lidar com a frustração. O envolvimento com drogas também é freqüente, afetando a capacidade de concentração.

"Para a psicologia, o importante é olharmos o indivíduo do ponto de vista global. Ele não é só o ato infracional que cometeu. O que temos que perguntar é "o que posso fazer por esse ser humano?", reflete.

O tratamento humanizado defendido pelos atendimentos psicológicos atuais envolve afetividade e o estabelecimento de vínculos, algo que a escola também pode criar. "Se olharmos o histórico desse adolescente, vemos que ocorrem vários pequenos atos antecedentes. Por isso a importância da formação da escola e do professor para conseguir olhar esse aluno por outro ângulo".

Por: Juliana Holanda

Fonte: Revista Educação

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