Como ajudar a criança que é a crítica mais severa dela mesma.
Andrea, 6 anos, entrou na pré-escola e aprendeu a "desenhar" as primeiras letras. Entusiasmada, resolveu escrever uma história. Logo no primeiro parágrafo, achou que a letra "a" não estava boa. Apagou e fez de novo. Continuava feia, na opinião dela. Na hora de passar outra vez a borracha, esbarrou, sem querer, na letra anterior. Não desistiu: reiniciou o processo todo. Novamente imperfeito. Depois de inúmeras tentativas, irritou-se, chorou e rasgou o papel.
Andrea é uma perfeccionista, a crítica mais exigente dela mesma, uma criança que vive com medo de errar, achando que seja lá o que faça, mesmo que se esforce ao máximo, nunca será bom o suficiente. No mundo das crianças perfeccionistas não há espaço para o fracasso, o que gera muita angústia e ansiedade, principalmente porque, nessa idade, é mesmo impossível fazer alguma coisa de forma perfeita.
Pequenos fracassos. A maioria das crianças em idade pré-escolar enfrenta os pequenos fracassos do dia-a-dia sem muito sofrimento. Irritam-se também, claro, mas a raiva passa depressa e elas se lançam, logo em seguida, a um novo desafio. Já a criança perfeccionista tenta conseguir o impossível e por isso mesmo acaba, paradoxalmente, fracassando nos seus esforços. É como se vivesse num mundo de conceitos absolutos: é tudo ou nada. No fundo, teme ser rejeitada pelos seus erros e para evitar isso adota duas atitudes básicas: evita os desafios em vez de enfrentá-los, ou então só arrisca se tiver certeza de que será capaz de fazer tudo di-rei-ti-nho.
Choro e raiva. À primeira vista, a mania de perfeição pode parecer capaz de motivar a criança a fazer o melhor que pode. Só que o melhor, para o perfeccionista, nunca é suficiente, já que os seus padrões de avaliação são maiores do que as suas habilidades. Como conseqüência, ele se frustra, desmancha-se em lágrimas, joga as coisas no chão, fica colérico. Mas não só isso. Além dos "chiliques" constantes, a criança perfeccionista sofre de uma ansiedade exacerbada, que se acentua diante de pessoas ou situações desconhecidas.
Mas o que, afinal, leva uma criança a agir assim? Há várias explicações, uma das quais passa pela influência familiar. Perfeccionismo pode ser um traço de personalidade transmitido geneticamente, ou um reflexo do comportamento dos pais (a maioria das crianças perfeccionistas tem pais muito exigentes). E embora essa característica seja mais comumente detectada em crianças em idade escolar, os primeiros sinais podem surgir bem antes, aos três ou quatro anos, por exemplo, com baixa tolerância à frustração e repetidas explosões de raiva quando não conseguem realizar o que se propuseram.
Nos casos em que, de fato, o alto grau de exigência está indicando um traço doentio de personalidade, é preciso buscar ajuda especializada. Senão, mais tarde, o problema pode derivar para quadros crônicos de depressão ou ansiedade na idade adulta.
Quando se preocupar. De uma forma geral, quase todos os pré-escolares odeiam perder num jogo, por exemplo, e, para garantir seu sucesso, acabam encontrando formas criativas de burlar as regras. Se perdem, ficam desapontados, mas essa sensação não dura muito, umas horinhas, apenas. Já o perfeccionista fica aborrecido por um longo tempo, dias até.
Mas não pensem os pais que a menina que passa horas em cima de um mesmo desenho ou arrumando a casa de bonecas é uma perfeccionista. Essa atenção aos detalhes é extremamente positiva para que ela, ao terminar o que estava fazendo, sinta-se satisfeita com o resultado. A perfeccionista, ao contrário, não se orgulhará do seu trabalho. Enfrentará um sentimento de frustração e ficará aborrecida, mesmo que ele esteja tão bom ou melhor do que o das outras crianças.
É nesses momentos que os pais devem agir, para tentar amenizar esse comportamento (veja o box). Um bom começo é fazer uma auto-avaliação, para ver se não estão ansiosos demais com o desempenho do filho, ou se não criaram expectativas muito altas em relação a ele. O perfeccionismo da criança pode também ser resultado de uma superproteção, da exigência de comportamentos muito rígidos, ou de sobrecarga de atividades extracurriculares. Na ânsia de oferecer as melhores oportunidades ao filho, é fácil esquecer que o melhor, muitas vezes, resume-se a deixar a criança brincar, se divertir ao ar livre, sujar as roupas, rasgar revistas, jornais, papéis, rabiscar paredes — atividades que lhe oferecem a chance tanto de acertar, quanto de errar.
Fontes: Beth Brandão, psicóloga e professora da PUC-SP; Claudia Mascarenhas Fernandes Rohenkohl, psicanalista com especialização em psicopatologia do bebê na Universidade de Paris Norte.
Fonte: http://crescer.globo.com/edic/ed70/0a18_4.htm
Andrea, 6 anos, entrou na pré-escola e aprendeu a "desenhar" as primeiras letras. Entusiasmada, resolveu escrever uma história. Logo no primeiro parágrafo, achou que a letra "a" não estava boa. Apagou e fez de novo. Continuava feia, na opinião dela. Na hora de passar outra vez a borracha, esbarrou, sem querer, na letra anterior. Não desistiu: reiniciou o processo todo. Novamente imperfeito. Depois de inúmeras tentativas, irritou-se, chorou e rasgou o papel.
Andrea é uma perfeccionista, a crítica mais exigente dela mesma, uma criança que vive com medo de errar, achando que seja lá o que faça, mesmo que se esforce ao máximo, nunca será bom o suficiente. No mundo das crianças perfeccionistas não há espaço para o fracasso, o que gera muita angústia e ansiedade, principalmente porque, nessa idade, é mesmo impossível fazer alguma coisa de forma perfeita.
Pequenos fracassos. A maioria das crianças em idade pré-escolar enfrenta os pequenos fracassos do dia-a-dia sem muito sofrimento. Irritam-se também, claro, mas a raiva passa depressa e elas se lançam, logo em seguida, a um novo desafio. Já a criança perfeccionista tenta conseguir o impossível e por isso mesmo acaba, paradoxalmente, fracassando nos seus esforços. É como se vivesse num mundo de conceitos absolutos: é tudo ou nada. No fundo, teme ser rejeitada pelos seus erros e para evitar isso adota duas atitudes básicas: evita os desafios em vez de enfrentá-los, ou então só arrisca se tiver certeza de que será capaz de fazer tudo di-rei-ti-nho.
Choro e raiva. À primeira vista, a mania de perfeição pode parecer capaz de motivar a criança a fazer o melhor que pode. Só que o melhor, para o perfeccionista, nunca é suficiente, já que os seus padrões de avaliação são maiores do que as suas habilidades. Como conseqüência, ele se frustra, desmancha-se em lágrimas, joga as coisas no chão, fica colérico. Mas não só isso. Além dos "chiliques" constantes, a criança perfeccionista sofre de uma ansiedade exacerbada, que se acentua diante de pessoas ou situações desconhecidas.
Mas o que, afinal, leva uma criança a agir assim? Há várias explicações, uma das quais passa pela influência familiar. Perfeccionismo pode ser um traço de personalidade transmitido geneticamente, ou um reflexo do comportamento dos pais (a maioria das crianças perfeccionistas tem pais muito exigentes). E embora essa característica seja mais comumente detectada em crianças em idade escolar, os primeiros sinais podem surgir bem antes, aos três ou quatro anos, por exemplo, com baixa tolerância à frustração e repetidas explosões de raiva quando não conseguem realizar o que se propuseram.
Nos casos em que, de fato, o alto grau de exigência está indicando um traço doentio de personalidade, é preciso buscar ajuda especializada. Senão, mais tarde, o problema pode derivar para quadros crônicos de depressão ou ansiedade na idade adulta.
Quando se preocupar. De uma forma geral, quase todos os pré-escolares odeiam perder num jogo, por exemplo, e, para garantir seu sucesso, acabam encontrando formas criativas de burlar as regras. Se perdem, ficam desapontados, mas essa sensação não dura muito, umas horinhas, apenas. Já o perfeccionista fica aborrecido por um longo tempo, dias até.
Mas não pensem os pais que a menina que passa horas em cima de um mesmo desenho ou arrumando a casa de bonecas é uma perfeccionista. Essa atenção aos detalhes é extremamente positiva para que ela, ao terminar o que estava fazendo, sinta-se satisfeita com o resultado. A perfeccionista, ao contrário, não se orgulhará do seu trabalho. Enfrentará um sentimento de frustração e ficará aborrecida, mesmo que ele esteja tão bom ou melhor do que o das outras crianças.
É nesses momentos que os pais devem agir, para tentar amenizar esse comportamento (veja o box). Um bom começo é fazer uma auto-avaliação, para ver se não estão ansiosos demais com o desempenho do filho, ou se não criaram expectativas muito altas em relação a ele. O perfeccionismo da criança pode também ser resultado de uma superproteção, da exigência de comportamentos muito rígidos, ou de sobrecarga de atividades extracurriculares. Na ânsia de oferecer as melhores oportunidades ao filho, é fácil esquecer que o melhor, muitas vezes, resume-se a deixar a criança brincar, se divertir ao ar livre, sujar as roupas, rasgar revistas, jornais, papéis, rabiscar paredes — atividades que lhe oferecem a chance tanto de acertar, quanto de errar.
Fontes: Beth Brandão, psicóloga e professora da PUC-SP; Claudia Mascarenhas Fernandes Rohenkohl, psicanalista com especialização em psicopatologia do bebê na Universidade de Paris Norte.
Fonte: http://crescer.globo.com/edic/ed70/0a18_4.htm
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