terça-feira, 11 de setembro de 2012

Como falar de morte para a criança? A dor infantil...


Certamente esse assunto é bem complexo e delicado para pais e escola trabalharem com as crianças, pois envolve crença, religião, maturidade e questões emocionais. Os pais tentam evitar que seus filhos sofram, e, quando ocorre algum caso de morte na família, as crianças pequenas costumam ser deixadas à parte do assunto, pois, acreditase, não possuem maturidade suficiente para entender o que aconteceu.

Segundo Freud, em sua obra Nós e a Morte:

Nós, criaturas civilizadas, tendemos a ignorar a morte como parte da vida... no fundo ninguém acredita na própria morte nem consegue imaginá-la. Uma convenção inexplícita faz tratar com reservas a morte do próximo. Enfatizamos sempre o acaso: acidente, infecção, etc., num esforço de subtrair o caráter necessário da morte. Essa desatenção empobrece a vida...

A dificuldade de abordar o assunto com as crianças está diretamente relacionada à negação do próprio adulto em lidar com a morte. Para Freud, o homem percebe que sua preocupação com a questão da morte tem base não apenas no declínio da condição biológica, mas também está fortemente calcada na questão da guerra e sua capacidade destrutiva além da morte.

A propósito, Freud chama a atenção para o fato de que nossa atitude civilizada perante a morte é muito irreal e que “vivemos psicologicamente acima de nossos meios”, enquanto deveríamos conceder um espaço maior em nossas vidas para a morte, para que a vida se tornasse suportável conscientemente, embora sabendo de sua finitude e de suas consequências.

A morte cerca o nosso mundo, e a criança percebe isso. Ela vê, escuta e sabe o conceito do que é acabar. As perguntas sobre a morte iniciam-se por volta dos 5 anos. A notícia da perda deve ser dada de forma direta, não importa a idade da criança, utilizando-se a palavra morte e deixando claro que se trata de um acontecimento irreversível.

Na tentativa de proteção emocional da criança, muitos pais ocultam ou procuram disfarçar o tema com o intuito de poupar os pequenos do sofrimento e, muitas vezes, optam por não falar no assunto, o que poderá causar uma série de traumas em crianças que perderam algum ente querido. Na verdade, uma boa comunicação com a criança certamente contribuirá para a superação da perda.

É comum as famílias utilizarem eufemismos — como “Vovô está vivo em outra dimensão”, “Mamãe foi morar com papai do céu”, “Totó foi para o paraíso dos cachorrinhos”, “Fulano virou estrelinha” ou “Foi viajar” — na tentativa de amenizar o sofrimento e articular a compreensão da criança; isso, no entanto, poderá criar expectativas de que a pessoa irá voltar.

É importante enfatizar que, se conversarmos com a criança de forma sincera e simples, permitindo seu luto, certamente oportunizaremos o seu desenvolvimento de aceitação da perda. A não exposição da verdade levará à quebra da confiança, pois, à medida que a criança for crescendo, perceberá que não era verdade o que contaram para ela.

Os pais ou responsáveis devem abordar a questão da morte com delicadeza e sutileza, contextualizando a realidade. É importante explicar com exemplos concretos — respeitando a idade da criança, fazendo uma relação com a vida —, dizendo, por exemplo, como acontece com a planta, que nasce, cresce e depois morre.

O ocultamento da verdade ou a suavização ao falar da morte pode deixar a criança confusa. Segundo Célia Maria Ferreira da Silva Teixeira, inventar argumentos pode constituir algo “desastroso”. À medida que a criança cria fantasias acerca do retorno do ente querido, ela poderá ter pensamentos autodestrutivos, acreditando que, se morrer, poderá se juntar a ele.

A relação de compreensão da morte pelas crianças

Uma criança de 2 anos, ainda vivenciando as representações, a fantasia, a imaginação e os pensamentos mágicos, pode pensar que não existe finitude, pois, através de sua capacidade imaginativa, aquele ente querido poderá voltar, assim como acontece nos contos infantis. Em sua fantasia e imaginação, é capaz de atribuir vida ao morto, consequência do animismo infantil; para ela, a morte é algo impossível e abstrato.

As crianças de até 3 anos não conseguem perceber claramente que a morte é definitiva e irreversível, mas entendem que essa perda ocasionará a ausência das brincadeiras com aquele ente que morreu. As mais velhas percebem que a morte é algo natural, mas precisam de explicações concretas para entender como a pessoa que morreu não vai mais estar entre nós.

A morte é compreendida por uma criança a partir dos 5 anos, conforme o seu desenvolvimento cognitivo, no que tange à possibilidade de assimilar a irreversibilidade e a noção desse conceito. Assim, as reações de uma criança diante da morte dependerão também do seu desenvolvimento psicológico. Além disso, crianças muito pequenas não percebem a morte como definitiva e irreversível, somente por volta dos 10 anos é que são capazes de reconhecer a morte como algo finito e de degeneração do corpo.

A partir dos 7 anos, período em que a criança começa a aumentar as relações e os vínculos sociais (na escola, principalmente), passa a sentir mais intensamente as perdas fora do círculo familiar. Assim, com a possibilidade de compreender as questões infralógicas e assimilar os processos de reversibilidade e irreversibilidade, ela passa a compreender melhor a morte e é possível falar mais abertamente sobre o assunto. Portanto, é a partir dos 12 anos que todo o processo de morte pode ser entendido pela criança. Dar oportunidade à criança de participar do luto familiar será importante; levar em conta o desenvolvimento psicoafetivo e a idade da criança irá possibilitar o entendimento sobre a perda.


Fonte: Construir Notícias
Por: Rosangela Nieto de Albuquerque

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